sábado, 1 de junho de 2013

sobre 'Os Malaquias':



a irrupção de pequenos acontecimentos fantásticos, o ethos mineiro ressonado em requintes de imagens se arriscam em uma escalada memorialística à deriva entre a fatalidade da orfandade, o comezinho das paredes descascadas de um interior oscilado no rural que se alastra virando currutela e o inesperado acionado na dinâmica dos corpos, na arquitetura de lares inundados e, sobretudo na linguagem concisa acossada pelas subtramas disparadas em dicção surrealista.
as liberações do outro em Os Malaquias, de Andréa Del Fuego, acontecem sem aquelas tentativas comprometidas da voz narrativa decalcar retidão e seus correlatos teleológicos de ascensão de soluções, tampouco, o exercício de emular a realidade aparece como condição para a emergência de uma espacialidade fortuita, tão concreta quanto fantasmática.


'Eneido deixou Timóteo na boca da caverna e foi para o fundo dela, sua casa. Tinha cavalo-marinho seco e triturado, que ele salpicava numa concha cheia de arroz cozido no calor da caverna aos poucos. Pedaços de carne ainda com pele de bicho peludo, defumados nas toras escuras. Timóteo não se assustou com nada, era de assombro o seu estado. Pensava com que frases falaria aos amigos o que viu e mais, calculava jeito de não dizer como chegou até ali. Para voltar depois, sozinho.' (Del Fuego, Andréa. Os Maláquias. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010)

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